terça-feira, 28 de dezembro de 2021

PANDEMIA

 Ao abrir meus olhos, desfigurada estava a face de meu povo;

almas trincadas pela dor da perda, da falta do novo

e do retorno do que antes dilacerava ossos.

Meus olhos, que há tanto não via a luz,

seguiu sem vê-la na carne decomposta dos sofridos de fome.

A nação não tão gentil esmaga, infame, o esquecido.

Esquecidos nós pela mão que nos governa;

não governa nossas vidas, mas governa nossas mortes.

Aponta-nos o caminho do lúgubre desterro 

e sorri perante o caos.

Os dentes rangem. Não há cura para aquele que odeia.

Sua face que a escuridão permeia

abdica de estender a mão; torna-se o ladrão

dos breves momentos vividos pelo infante.

Meus olhos almejam luz!